A maioria dos textos sobre rede de apoio a puérpera bate na tecla em como as avós podem estar presentes neste momento e auxiliarem a mulher neste período.
Mas e quem não pode contar com elas? Como fica?
Essa questão é um grande tabu, infelizmente. Faz com que mulheres que vieram de famílias disfuncionais se sintam perdidas. Ó céus, sem avó não faço nada? Não tenho filhos? Fico jogada a própria sorte?
Nem sempre a presença da matriarca na casa da família é viável, independente da questão. Ela pode ter idade avançada, ser doente ou mesmo desinteressada e pouco cooperativa, afinal ela é uma pessoa REAL e não uma construção do arquétipo de anciã acolhedora, cuidadora e curativa.
E se não existirem avós vivas? Como faz? As mulheres ficam a esmo? E aquelas que moram em outro país?
O fato é que por mais que tentemos ser valentes precisaremos de auxílio no puerpério e pouco importa se alguém na família pariu 10 filhos e se virou sozinha. Este momento é de especial fragilidade física e emocional.
De assalto a vida para. Você estará cansada, com um bebê plugado, numa outra esfera de vida. Coloque junto nessa receita a privação de sono e acrescente um filho mais velho e animais para cuidar.
Ou seja: Com ou sem avó você VAI precisar de auxílio.
Minha dica é: Pense com carinho e faça um fundo reserva na gestação mesmo para poder delegar tarefas para outra pessoa.
Quando a gente fala de avós, tias, primas que ajudam nesse processo me sinto num vilarejo rural no século passado. É triste, mas a verdade é que poucas pessoas tem vontade de ajudar e outras poucas tem disponibilidade de tempo para isso. Hoje em dia todos trabalham e tem seus afazeres não podemos contar exclusivamente com a pena ou a boa vontade de alguém neste período.
O que toda família vai precisar neste momento é que as necessidades BÁSICAS sejam supridas, ou seja:
1º Alimentação fresca e de qualidade
2º Animais alimentados e bem cuidados
3º Roupa limpa e organizada
4º Para a puérpera: Sono e descanso sempre que possível
A licença dos homens tem apenas 05 dias, ou seja, não dá para nada. Primeiros dias são extenuantes: Registrar, fazer exames, e tudo isso com as necessidades básicas gritando, então foquem no básico. Esqueçam casa arrumada, azulejos brilhantes, vidros impecáveis e por favor, não gastem energia com isso tentando manter em ordem o que não vai ficar em ordem. Aceitem apenas.
Se o marido não for um cozinheiro legal, contratem uma pessoa para cozinhar em casa e deixar a comida congelada por uns dias. Eu prefiro assim, sai um valor infinitamente menor, você escolhe os ingredientes e o preparo é feito em sua própria casa. Se alimentar bem é lei.
Uma panelinha de arroz qualquer um aprende a fazer. Tendo arroz fresquinho, uma salada esperta e um suco gostoso (congele a polpa das frutas) está tudo certo.
Para as roupas espalhe cestos pela casa. Cada membro da família com um cesto. Um de roupa suja e outro de roupa limpa. Fica fácil para qualquer um colocar na máquina e depois de limpas colocarem no cesto certo. E depois se ninguém passar não vai ter histeria para achar a outra meia perdida.
Se a família tiver condições financeiras, uma pessoa que faça a limpeza da casa ajudaria absurdamente a manter a ordem. Que seja a cada 15 dias, já é um alento.
E amigas…Dependendo do estado emocional e das questões puerperais, sim as verdadeiras costumam ser bem vindas. Na minha gestação a visita delas foi muito importante para mim, não me senti só. Elas olhavam nos meus olhos e perguntavam como EU estava.
É a pergunta chave, é o que nos faz sentir gente.
Essas dicas são as básicas. Claro que elas são variáveis, não são receitinha de bolo. Vão mudar conforme a rotina de trabalho do homem, quantidade de filhos, questões financeiras mas é bom outras mulheres saberem que podem se organizar antecipadamente ao invés de se desesperarem ou se verem abandonadas nesse período, ou pior: Se sujeitando a um contato apenas por necessidade.
Rede de apoio não é só avó. Você pode construir sua rede de apoio a qualquer momento e ter um puerpério um pouco menos tempestuoso.
Ai você pode falar: Falar é fácil, né? Também não é fácil, mas partilho com vocês minha experiência de mãe e mulher que trabalha e que não conta com apoio, exceto por uma amiga que acolhe pontualmente meu filho em caso de doulagens durante a semana e outros compromissos que ele não possa estar presente.
Aqui em casa fazemos tudo por nós mesmo…Dá certo, dá trabalho, mas dá um orgulho absurdo olhar para trás e ver o quanto nós somos capazes.
Entendam que rede de apoio não vem pronta. Não se restringe a avós e parentes próximos. Você pode construir sua rede de apoio, sua família direta pode auxiliar neste processo e sim, é possível delegar questões básicas para outras profissionais.
O que não pode é deixar esse assunto de lado, não se planejar e esperar acontecer que alguém de coração puro bata na sua porta as 16:00 com um bolo quentinho, um limpa limpo spray na mão para limpar seu banheiro e um saco de roupas limpas e passadas.
Isso não vai acontecer!
Pensem, ponderem e remanejem gastos que seriam destinados a enxoval, chá-de-bebê e foquem neste período desafiador que é o puerpério.