Meu parto, a dor e eu – Vanessa e Vitória

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“Dor só é sofrimento se não fizer sentido algum.”

Com essa frase é que hoje abrimos o relato do dia. Vanessa Leme nos fala de maneira detalhada sobre sua percepção de dor e parto, onde foi tudo tão rápido que a doula não teve tempo de chegar!

“Eu fui agraciada com contrações “amostra grátis” quatro dias antes do parto, no dia 18/05/15, acordei a 1h da manhã sentindo uma dor que vinha pela lombar e parecia abrir os ossos da bacia, uma forte pressão na pelve, uma vontade de defecar sem a real necessidade de fazê-lo, a barriga enrijecida e baixa, as contrações eram intensas, mas muito irregulares, para aliviá-las utilizei a bola de pilates, foi maravilhoso, sentada na bola eu realizava círculos com o quadril, foram cinco horas assim, várias contrações espaçadas e irregulares, mas foi a partir delas que eu tive uma ideia do que eu enfrentaria no dia do parto.  As 6h da manhã tudo passou e nada senti pelos dias que se seguiram.

No dia 22/05/15, as 3h25 da manhã eu senti minha primeira contração, o meu trabalho de parto já começou intenso, contrações a cada cinco minutos com duração média de dois minutos, daí pra frente foi cada vez mais tenso, e eu confesso que fiquei desesperada nas primeiras contrações que senti, era tudo muito além do que eu imaginava, fui surpreendida, mas lembrei de tudo que eu havia feito para chegar até ali, eu queria aquele parto, eu escolhi passar por aquilo e precisava me concentrar, acreditar no meu corpo.

A bola de pilates não foi tão eficiente quanto havia sido há cinco dias, além disso, meu trabalho de parto foi tão rápido que não pude contar com minha doula, ela chegou muito tempo após a Vitória nascer, então para aliviar minhas dores eu mentalizava a chegada da Vitória, acompanhava (introduzindo o dedo na vagina) de tempo em tempo a descida da minha bebê. O chuveiro foi meu aliado, eu deixava a água mega quente cair na minha lombar, foi assim durante todo o trabalho de parto e quando a contração vinha com toda a sua força eu vocalizava um mesmo mantra, abria a boca, usava o meu corpo e minha voz para expressar abertura, dilatação e rebolava, mantinha o corpo em movimento, mentalizava um fluir de energias em ondas que cresciam e descreciam. A Vitória já estava coroando quando a primeira parteira chegou, uns quinze minutos antes da Vitória nascer,  ela nasceu as 5h25, exatas duas horas após a primeira contração.

Com a dor aprendi que nosso corpo é perfeito, que tudo funciona e que concentração é fundamental, mas entrega é muito mais, aprendi que a dor só é sofrimento se não fizer sentido algum, se não nos trouxer algo bom como resultado, a dor do parto não nos faz sofrer, nos faz crescer, entender a beleza da criação divina, além disso, assim que o bebê nasce é como se nada tivesse acontecido, a felicidade é tão grande, o amor, a satisfação de ter seu filho nos braços, é incrível.”

Meu parto, a dor e eu – Liv e William

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E quem partilha hoje sua experiência de dor no trabalho de parto conosco hoje é a Liv!

Ela se informou, mas não contou com uma doula. E disse que jamais pariria novamente sem contar com uma doula nessa caminhada.

Cada história, um aprendizado e nesse relato fica claro a necessidade de jamais subestimar a dor.

“Olha, é difícil falar sobre isso por que o desfecho não foi o que eu gostaria. Não frequentei grupos, fui deixando tudo levar.

Eu já tinha lido o texto da Carol Darcie dos 5 estágios e os dois primeiros, as frases foram idênticas!

De intensidade de dor, realmente, é a pior dor, a mais forte que senti na minha vida. Isso é fato.

Normal achar que vai morrer. Duvidar da sua capacidade. Por que a dor é muito muito forte e se você não tiver um apoio, ela te desorienta e põe em xeque tudo o que você acredita. Exatamente por isso que somente o marido não é o suficiente como apoio. Ele vê você berrando, gritando e não pode fazer nada. Aí você surta e pede uma cirurgia e lógico que ele vai consentir. Porque a sua dor é dele também.

Por isso que eu digo de novo, dor do parto é superação.

E o psicológico, ah esse também é responsável. Você tem q estar bem. Acreditar em você. No seu corpo.

Doulas são fundamentais e esse é o meu maior arrependimento. De não ter uma ao meu lado.

Por tudo isso que eu digo: Dor do parto é    Superação.

Defina a dor do parto em uma palavra:        Superação.

O que você falaria pra outra mulheres?        Superação.”

Meu parto, a dor e eu – Gleice e Flávia

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Hoje nosso relato é da Gleice, guerreira.

Seu trabalho de parto foi longo e intenso. E foi para lavar a alma! Um lindo VBAC!

“O que me dava mais medo em um parto normal era a famosa do do parto. Eu sempre ouvia que dor do parto era horrível, era mortal e quando dizia que pretendia um parto sem anestesia sempre falavam: -Se prepara, hein?! Não quero te desanimar, mas dói muito. E em contrapartida as pessoas ligadas ao parto humanizado diziam que a dor do parto era boa, suportável e que ninguém morria dela. Antes de parir eu pesquisei muito, li muito e descobri que a dor do parto era única, que acontecia a partir da percepção de cada mulher e que todas que passaram por ela não tinham se arrependido e fariam tudo de novo.

Psicologicamente eu me preparei para a pior dor do mundo e estava disposta a aguentar até onde pudesse. Daí que as dores do parto chegaram e eu senti algo muito diferente do imaginado. Para mim a famosa dor do parto não doía, mas ardia. A sensação que eu tinha era similar a quando tomamos muito sol e ficamos ardidos. Ela era uma onda: meu corpo avisava de antemão que ela viria, o ardor aparecia fraco, ia aumentando de intensidade e aos poucos ela ia embora.

Tomava conta da lombar, bumbum e quadril. Nessa hora minha doula apertava muito o meu quadril e era mágico. O ardor praticamente sumia. Além disso a doula sempre me lembrava de rebolar e balançar o quadril. Nunca ficar imóvel. A água quente também ajudou muito. Tomei vários banhos no decorrer do parto e já no final da dilatação estar abaixada, pendurada em um barra com água nas costas era muito bom.

Já quando os famosos puxos chegaram o ardor cessou por completo. Era como se meu corpo tivesse desligado a dor e ligado o empurra que seu bebê irá nascer. Assim que minha menina nasceu tudo parou como mágica. Até mesmo para a expulsão da placenta não houve dor alguma. Eu não me arrependo em nada por ter parido sem analgesia.

Foi tranquilo e faria tudo de novo.”

Dor no parto

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Somos poupadas de tudo.

Temos ar condicionado para refrescar, aquecedor pra esquentar. Milhões de remédios para curar dores e não suas causas. Todo mundo foge de água fria, foge da chuva, tem medo de sol.

O que dizer da dor do parto?

Ninguém sabe, ninguém conhece porque temos poucos partos normais no Brasil. E dentre esses temos menos ainda os não medicalizados.

O que sobra no imáginario popular é o parto da avó, da tia avó da roça que pariu sozinha e no outro dia estava no fogão. Ou então ela morreu.

Ninguém vai te contar uma história diferente, então não busque este tipo de referência quando o temor sobre a dor do parto tentar tomar conta de você.

Meu parto foi domiciliar e eu sou muito resistente a dor. Este é um ponto importante a ser lembrado. Cada uma de nós tem uma sensibilidade e limiar para a dor. Mas todas nós temos uma força incrível oculta que nos ajuda a lidar com ela.

Mesmo eu sendo “a resistente”, sou do tipo que aguenta firme qualquer coisa, confesso que me impressionei com a dor da transição.

Já tive cólica renal, já tive cirurgias com pós operatório sofrido que me fizeram dar entrada no pronto socorro de cadeira de rodas, já tomei medicações fortíssimas (morfina) para lidar com essa dor, mas NUNCA senti nada parecido com a dor da transição.

Nunca subestimem a dor. O bom pescador não subestima o mar, porém não deixa de enfrentá-lo. Por que? Com força da natureza não se brinca. É algo que independe de nós, vai acontecer.

Quando me perguntam sobre a dor logo associam dor com sofrimento. O que não é verdade!

Você pode sofrer, chorar por uma ferida na alma. Por uma traição, um olhar de desprezo, um comentário debochado. Dói, seu corpo somatiza e o estopim de tudo nem sempre partiu do físico.

Dor física não é sofrimento. Você resignifica sua dor. Sua mente comanda, num parto com uma assistência respeitosa e amorosa você terá liberdade para exteriorizar tudo o que sente.

Pode vocalizar, urrar, gritar. Terá liberdade para se movimentar e seu corpo encontrará instintivamente posições que proporcionarão alívio.

Terá seu marido, namorado ou quem quer que lhe seja importante ao seu lado. Ou não terá ninguém, vai ficar no seu cantinho, você e sua dor. Um abraço da alma que prova que seu corpo é perfeito e que traz seu filho cada vez mais perto de si.

Sozinha, sem as contrações jamais conseguiríamos parir. Não temos força suficiente para a expulsão do feto, o corpo é sábio, trabalha junto conosco.

Eu fiquei bem até  08cm de dilatação. Doia, sim, mas não é uma dor constante. Ela vai e vem como uma onda. Eu ficava abaixada, ganhava massagens, bolsas térmicas ficavam na minha sacral. Podia ingerir líquidos, comer.

Escolhi as músicas e curti cada uma delas. O ambiente me acolhia, me convidava a entrega. Os gatos ficavam próximos, era meu momento. E a dor mesmo intensa, não conseguiu roubar a cena.

Eu mergulhei em mim mesma. Aceitei e agradeci por cada contração.

No próximo post falarei sobre leituras, alívio não farmacológico e posições que diminuem muito a dor.

A questão da analgesia em partos hospitalares é resolvida e decidida pela mulher. Não existe mais parto, não existe um pódio que só alcança o topo quem não usou esse recurso.

Isso é protagonizar o parto, reconhecer seus limites!

Porém a dor faz parte de nós, não se privem de uma experiência tão transformadora como o parir por terem medo dela. Eu dormi entre uma contração e outra, não dói o tempo todo.

Sintam-se perfeitas com a dor. A dor do parto nos prepara para o puerpério. Enfrentaremos dias de descobertas, de aprendizado. Teremos privação de sono, alteração psíquica, mudanças na rotina da casa, bebê que só sabe se comunicar chorando.

E ai você olha e vê o quando foi forte e suportou a dor. Entende a dor de seu filho, acolhe.

A natureza é perfeita até na dor. É o abraço da alma que traz seu filho do seu ventre para seus braços.