Relato de Parto Vanessa Meyrelles

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Esse é meu relato de parto, escrevi apenas 02 meses depois de parida. Está mais detalhado e mais romantizado.

Nossa percepção muda absurdamente com o passar do tempo, por isso recomendo que escrevam o quanto antes puderem. Ouvi muito da equipe, do marido porque eu não me lembrava de quase nada, eram sensações apenas.

Mergulhem nesse dia comigo!

Meu relato de parto não começa com as contrações, mas sim quando descobri que estava grávida.
Decidimos depois de 11 anos juntos receber nosso filho. Vida mais tranquila, sonhos realizados, chegava a hora da doação. Tanta felicidade em nossa vida não teria sentido se não fosse compartilhada.
Durante esses 11 anos jamais me vi mãe, ninguém compreendia o motivo de eu não engravidar, mas simplesmente não era meu tempo. Por conta disso eu não sabia nada sobre gestação e muito menos sobre parir.
E de repente palavras como puerpério, períneo, contração, violência obstétrica e tantas outras feias e bonitas, com os mais diversos significados se incorporaram a nossa rotina.
Desde de que vi a faixa azul do teste de farmácia ficar mais forte e comprovei pelo beta a gestação, estava decidida a conduzir todo aquele processo da forma mais amorosa e carinhosa possível. Ficamos radiantes com a novidade!
Foi quando a ficha caiu. Descobrimos que a mulher é tratada de maneira desumana e desrespeitosa nos hospitais. Não tem autonomia sobre seu corpo. Terceiros decidem se podem mutilar seu órgão ou extrair seu bebê. Vimos que existe uma indústria do nascimento, onde o nascer fica condicionado a interesses de terceiros. E decidimos buscar uma alternativa.
Foi nesse momento que descobrimos o universo da humanização, nos informamos e optamos por receber nosso filho em casa. Eu estava disposta a enfrentar toda a dor do mundo, pelo meu filho.
Meu marido engravidou comigo. Ia a todas as consultas, sabia de tudo. Nos tornamos um só corpo, uma só alma.
A dor física era irrelevante perto da dor na alma que eu sentiria parindo num hospital de forma desrespeitosa e violenta.
Quando acertamos com a equipe de parteiras uma nuvem de paz pairou sobre nós. Neste caminho tivemos a presença FUNDAMENTAL da Evelyn Amorim que pariu em casa e com todo o carinho do mundo mostrou que nossos sonhos podem se realizar.
Nos acolheu em sua casa, me muniu de informações, vimos o vídeo do nascimento de sua filha. Tudo isso contribuiu para que nossa decisão se fortalecesse ainda mais.
Cada vez que alguém se aproximava de mim e dizia que eu ficaria “larga”, que meu filho teria anóxia, que eu era louca, eu via a família da Evelyn, sua filha saudável e linda e acreditava que sim:
Parir é possível! Parir é divino!
Mesmo com tudo isso não me sentia fortalecida suficientemente. Foi quando tive um sonho lúcido. Eu estava numa reunião com gestantes, num lugar maravilhoso em meio a natureza. No final a orientadora me chama e diz que está tudo certo no astral, que eu preciso apenas confiar em mim e no meu corpo que tudo daria certo.
Depois desse sonho nada mais me fez desistir da idéia de fazer um parto domiciliar. Fiz as pazes com a possibilidade da morte, porque sim, parto é vida e morte, vidro e corte. Decidi pautar minha decisão pelo amor e não pelo medo.
Assim mergulhei no sagrado feminino. Com os conhecimentos que adquiri me conectei com a mulher ancestral dentro de mim, a que vive escondida. A mulher ancestral é parideira, benzedeira, forte e acolhedora. E era ela que seria a protagonista do meu parto.
Durante a gestação mergulhei fundo no meu corpo. Me mantive ativa, a mente com pensamentos positivos. Foquei mais na parte espiritual. Pedia muito para a espiritualidade me conceder um parto respeitoso.
Também no tempo certo usei o Epi-no e fiz as massagens perineais.
Dia 29/01/2015 minha madrugada foi diferente. Intuitivamente eu sabia que a hora do Álvaro estava chegando.
Nesta semana arrumei a casa, fizemos umas compras, mas já notava que meu corpo pedia descanso. Não conseguia mais dirigir, até namorar estava complicado porque as contrações de treinamento estavam mais frequentes e doloridas, porém sem ritmo.
A necessidade de recolhimento estava cada vez mais forte.
Embora eu tivesse plena consciência de que a gestação pode chegar nas 42 semanas, sabia que eu receberia o Álvaro entre 39 e 40 semanas lunares. Meu ciclo era super regulado e nós sabíamos certinho o dia da concepção.
Não me apeguei a números, era apenas sinais que apoiavam o que eu já intuía.
No dia 28/01 as contrações estavam doloridas. Pedi que minha mãe ficasse comigo. Ela veio, passamos a tarde assistindo novela e comendo bolo. Fiz algumas coisas em casa, mas já me curvava quando as contrações apareciam.
Com o fim da tarde ela desapareciam e na madrugada retornavam com força total. A madrugada do dia 29 foi punk. Contrações fortes que me deixavam nauseada. Eu sou super resistente a dor. Não vomitava há anos. Para eu sentir náusea já via que de fato a contração era bem forte. Por conta da minha resistência a dor fico sem parâmetro para comparar se elas estão fortes ou não.
Neste dia 29 eu marquei cabelo e unha. Por conta disso meu marido foi trabalhar sem carro. O combinado era que ele ficaria com o carro durante a semana caso o trabalho de parto engrenasse e ele pudesse voltar a tempo do trabalho.
Mas eu não fui ai salão, claro. As contrações começaram a ritmar. Minha mãe veio em casa e disse que eu iria parir, que aquelas contrações não eram só de treinamento.
Baixei um programa um dia antes e fui checando o ritmo delas. Começaram de 12min em 12min com duração de uns 40 min.
Neste mesmo dia a Gisele uma de minhas doulas veio em casa de manhã. Conversamos, ela montou a piscina, foi embora e eu segui meu dia com limitações, mas sem sofrer em nenhum momento.
De manhã falei com a fotógrafa, ela intuía que eu ia parir logo. Eu também, mas nunca imaginei que naqueles momentos eu já estivesse a caminho do encontro com meu filho.
A tarde decidi ficar na cama. A casa estava arrumada e eu precisa relaxar. Mas tive que ficar de olho nos contrações, porque de 12min em 12min elas caíram para 10min em 10min e cada vez mais fortes.
Lembrando que dor não é sofrimento. Fiquei com meus gatos, recebendo as contrações e esperando meu marido chegar. Até ai eu estava nesse mundo, nesse planeta. A partir das 19:00 eu comecei a sair de mim.
E foi ai que elas começaram a ritmar bem. O intervalo entre elas estava de 8min e a duração maior.
Meu marido chegou e foi recebido com uma contração master. Foi ai que eu vomitei, mas mesmo nesse estágio ainda conseguia pedir um balde e ficava com ele pertinho de mim.
Vomitei seis vezes.
Neste ínterim as doulas maravilhosas chegaram em casa. A Gisele e a Evelyn foram meus anjos, nesse estágio eu já estava com os reflexos comprometidos, conseguia ouvir suas vozes, mas já tinha muita dificuldade para falar.
A piscina começou a ser enchida. E as dores aumentavam exponencialmente. Mas eu levava numa boa. Preferia todas elas a ter que sentir o cheiro de hospital. A ter de ser tocada como um saco de carne por estranhos com outras preocupações ali que não fossem eu e meu filho. Qualquer dor física supera a dor na alma.
Inclusive um trato que fizemos, eu e meu marido foi de que eu não seria transferida em hipótese alguma para receber analgesia. Ele poderia me amarrar, eu poderia implorar, mas não sairia de casa para isso. Ele concordou.

O manejo do trabalho de parto foi sensacional. A noite caia e as luzes amarelas de casa me acolhiam. Pedi para desligar tudo.
Como moro em apartamento algumas coisas começaram a me irritar muito. O barulho das louças batendo na cozinha chegavam a mim como uma bateria de escola de samba. A piscina sendo enchida, o Mário com um passa passa de balde também me irritou demais, então dei tchau galera e fui pro meu quarto.
Eu e meu marido.
Fechei a porta e ficamos lá, não sei por quanto tempo. Ai eu me recuperei. Tudo escuro, tranquilo eu consegui me conectar comigo mesma.
Foi quando as dores que para mim iam numa escala de 0 a 10 chegaram a 20. Ganhei muita massagem neste período, era seis mãos em mim, o que foi fundamental. Palavras carinhosas da Gisele, da Evelyn me fizeram seguir meu caminho.
Mas foi nas mãos do meu marido, com sua força que eu sentia toda a energia. Sentia todo seu amor, toda nossa história. Era como se nossa alma se conectasse sem palavras. Apenas com o toque das mãos.
As dores se intensificaram bastante. Foi quando as parteiras lindas e amadas chegaram. Eu já sabia que estava próximo.
Com a consciência corporal adquirida com o uso religioso do Epi No e das massagens perineais sabia que algo estava diferente. Parecia que eu estava abrindo e era ósseo, muito diferente a sensação.
Nesse momento senti uma pressão e fui ao banheiro, achei que iria evacuar, mas minha bolsa rompeu. Vi meu tampão mucoso, a Fernanda veio e confirmou o rompimento da bolsa.
Eu pedi então que ela fizesse o toque. Ela perguntou se eu queria saber a dilatação e eu disse que sim.
Foi quando ela disse que eu estava com 08cm e colo fino!
Levantei RADIANTE e fomos para a sala contar a notícia! Super comemoração! Aguentei até 08 cm firme, finalmente entraria na piscina.
A piscina já estava quase cheia mas a água tinha esfriado. Foi então que o excesso foi tirado e as meninas lindezas da minha vida repunham com água quente.
Ali senti um alívio imenso mas gostaria que a água cobrisse minha barriga. Não me esqueço da Olívia com uma jarra jogando água continuamente nela, isso me aliviou muito, porém eu não achava posição confortável nela. Ficava de lado, tinha a impressão que se eu sentasse iria esmagar a cabeça do meu filho.
E ai o trabalho prosseguiu. Sei que ganhei sorvete, chocolate, suco de maçã, salada de frutas. Não sei a ordem dos fatos mas não me faltou apoio em nenhum momento. As doulas e meu marido foram fundamentais para trilhar este caminho. Fazendo uma analogia eles seriam como calçados. Eu percorro o caminho, mas com o melhor calçado tudo fica melhor e mais prazeroso.
Em dado momento comecei a sentir as contrações muito doloridas. Já estava com a consciência alterada, recordo de ter urrado três vezes, como nunca fiz na vida e nem sei se faria.
Urrado. Não foi gritinho, foram urros guturais, do fundo da alma. Achei que eu fosse despedaçar, aquela foi minha hora da covardia, mas ali vi meu corpo se abrindo e quando a gente acha que não vai mais suportar, o nascimento acontece.
Eu sai da piscina, me contorci brutalmente com essa dor, foram três pessoas me segurando…Quando ela passou.
Não sei se antes ou depois eu senti a cabecinha do Álvaro. Senti seus cabelinhos e me emocionei demais. E ali decidi comigo mesma que nada faria eu desistir.
Eu sei que a Gisele apareceu na frente da piscina para fazermos um rebozo. A Fernanda tinha feito o toque eu eu saquei…o Álvaro está encaixado, já sabíamos, mas não deve ter girado legal. Eu já tinha relaxado por uma hora na piscina, vi pelo CD que tinha acabado. A nossa hora havia chegado.
Na piscina eu senti dois puxos, respirei e não fiz força junto. Mas não impedi. Senti eles virem e irem embora como ondas.
Até então não havia feito força nenhuma vez. Eu não queria laceração e sabia que fazer força fora dos puxos era besteira. Também não me desesperei, sabia que o Álvaro tinha seu tempo para vir e que não adiantava eu forçar.
Enfim, durante o rebozo recebi uma comunicação espiritual. Aquela era minha hora de aproveitar a onda (puxos). Ele estava perto, bastava eu agir.
A Gisele terminou e eu ajoelhei e abracei meu marido que estava no sofá. Fechei os olhos e me permiti. Quanto mais relaxada estivesse mais fácil seria o expulsivo e menos probabilidade de laceração eu teria.
Tudo isso ali na minha cabeça, podia estar mais louca que o Batman mas meus movimentos eram friamente calculados rs.
Ajoelhada (pobres joelhos) eu senti um puxo e fiz força. Foi quando eu senti ele escorregar no canal vaginal. Senti o círculo de fogo igualzinho no Epi-no! Verbalizei isso!
Enfim, ele estava ali!
Nessa hora a Fernanda me contou que eu pedi (gritei) para tirá-lo e ela disse para eu aguardar a próxima contração.
Ela veio forte. Aproveitei e fiz mais uma força, o pescoço saiu. Mas até então eu tinha voado para a cadeirinha de cócoras para verticalizar mais. E veio outra, fiz outra força e o Álvaro nasceu!
As 02:27 meu filho reencarnou. A Fernanda segurou ele e eu como um bicho doido pra pegar a cria tomei dela, abracei meu filho cheiroso, levantei sozinha e fui pro quarto.
Agora de onde eu tirei força pra tudo isso eu não sei! Foi mágico!
No expulsivo eu me vi num azul profundo, com um jato de luz azul mais claro sobre mim. Me senti no meio do Universo, foi a melhor viagem da minha vida!
Acredito que não conseguiria num ambiente hospitalar. Aqui em casa sutilezas me fortaleciam. Poder usar meu banheiro, sentir a textura conhecida da roupa de cama, os cheiros. Vozes e olhos amigos, meus quatro gatos rodeando…E o cheirinho de café sendo passado pela minha mãe. Não tomo café, mas quando senti aquele cheiro fui pra minha infância, pro mato, pra um monte de lugar.
Inesquecível.

Mulheres, confiem em sua intuição, cerquem-se de uma equipe excelente como eu fiz. Além de procurar pessoas competentes, me vinculei a eles. Porque parto é entrega. Parto traz a tona uma mulher selvagem que muita gente nem imagina existir. Essa mulher chora, grita, urra, vomita, morde. Ela é guerreira, leoa, lutadora. Faz tudo pela cria. Confiem nela.
Se libertem de travas mentais, não acolham histórias alheias da prima da vizinha. Aceitem qualquer desfecho, seja ele qual for. Sejam gratas. O Universo se encarregara do resto.
Outra coisa, na medida do possível cooperem com a equipe. Chega uma hora que é difícil falar, mas dizer onde prefere a massagem, que tipo de bebida querem, qual posição ajuda muito. Isso se chama sintonia.
Para finalizar, para cutucar o sistema que tanto nos amedronta, eu PARI, um bebezão de 4.230kg. Com períneo íntegro, sem laceração nenhuma!
Parir é divino, não permitem que ninguém roubem isso de vocês.

Parto normal está bom!

Com seu neto, nascido de maneira respeitosa 31 anos depois de seu primeiro parto.
Com seu neto, nascido de maneira respeitosa 31 anos depois de seu primeiro parto.

“Não quero um parto humanizado, não precisa de tanto. Um parto normal está bom.”

Ouvi essa frase muitas vezes. Gostaria de pertencer aqueles corpos, mente e coração para sentir esse desejo. Para decifrar o que as pessoas lêem como parto humanizado.

Imagino que as pessoas entendem o parto humanizado como aquele parto que a mulher não pede analgesia. Que ela tem o bebê em casa, apenas com doula.

Parto humanizado é aquele que a mulher é respeitada e protagoniza esse momento. Ponto. Não existe escala. Não existe pódio.

Mas esses detalhes deixarei para outro post, hoje falarei sobre parto normal, só que um parto normal há 32 anos, no hospital.

Nadja Prado abriu seu coração, expos suas feridas nesta entrevista onde relata como seus filhos vieram a vida.

Ela teve dois partos normais violentos, com plantonistas. O que ela relatou ainda acontece quando mulheres desejam parir, com um agravante: Finalizam com cesáreas desnecessárias.

Leiam e reflitam. Parto normal no Brasil é normal mesmo? É respeito? É normal como a palavra sugere?

Entrevista emocionante. Relatos de uma vida, de décadas atrás, que ainda vive intensamente nos hospitais do Brasil.

Semearmos: Qual sua referência de parto em sua vida? Como surgiu seu desejo de engravidar?

Nadja: Esse surgiu depois que casei e foi compartilhado com meu marido. Um mês depois de casada engravidei.

Semearmos: Qual era a troca de experiências sobre o parto?

Nadja: Nenhuma. As mulheres não falavam sobre parto. Quando engravidei não havia essa conversa. As conversas que haviam era sobre o sexo de bebê, médico do pré natal, roupinha de bebê, berço, quarto decorado. Ninguém discutia via de parto. Era um ritual, quando as mulheres sentiam dores iam para o hospital. Falava-se muito na dor, mas ninguém explicava como poderia ser amenizada. Não havia informação, íamos para o hospital e ponto.

Semearmos: Como foi a sua experiência de parto normal hospitalar? Teve preparo, auxílio da família?

Nadja: Não tive auxílio do médico, ele não passava nenhuma informação sobre sinais do trabalho de parto. Eu simplesmente comecei a sentir dores e fui desesperada para o hospital achando que iria dar a luz em poucas horas.

Semearmos: Como foi sua recepção por parte da equipe hospitalar?

Nadja: Foi horrível. Me colocaram num quarto sozinha e ali eu comecei a ter as contrações. A dor foi aumentando, eu gritava e ninguém me acudia. Eu senti muita fome. Internei cedo e minha filha nasceu a tarde. Eu tinha sede. Delirava pensando em comida e bebida.

Me informaram que eu não podia beber e nem comer. A cada hora um médico vinha fazer o exame de toque.

Semearmos: Eles pediam licença? Informação a você sobre o procedimento?

Nadja: Eles não diziam nada. Eu estava morrendo de dor, o médico chegava na sala com enfermeiras, fazia o exame de toque e dizia:

-Não está na hora. E saia. Eu ficava sozinha, até o momento que me levaram para uma sala de cirurgia e as coisas pioraram ainda mais.

Semearmos: Pioraram por quê?

Nadja: Houve segundo eles uma demora na hora do nascimento. Pediram para eu fazer força, eu fazia, mas não tinha dimensão desta força. Estava anestesiada. Diziam durante a aplicação da anestesia que se eu me mexesse ficaria paralítica. Uma coisa horrível, tudo traumático. Num determinado momento uma enfermeira colocou todo o peso dela sobre a minha barriga. E ela dizia que fazia isso para me ajudar. Foi horrível.

Semearmos: O que você sentiu? Acha que isso era certo? Achava que poderia ter recebido um tratamento diferente? Sofreu episiotomia?

Nadja: No primeiro parto não tive episiotomia, mas no segundo sim. Um corte imenso, minha vizinha que viu a extensão. Mal conseguia sentar de tanta dor. Minha filha nasceu com o braço quebrado, sai com ela com o braço enfaixado.

Não tinha o que questionar. Nós fomos ensinadas a obedecer, os médicos sabem de tudo. Se o médico colocasse o pé na barriga não questionávamos. Estávamos imersas numa ignorância total.

Semearmos: E a questão da amamentação? Como fluiu a amamentação no hospital? Você teve contato pele a pele?

Nadja: No caso da minha filha foi uma demora muito grande e me deixou preocupada. Depois de horas fui amamenta-la. Não sei como ela foi alimentada, a vi no dia seguinte. Mulheres se informem. Hoje vocês tem informação. Minha filha pariu naturalmente, com respeito. Eu estava presente. Vi meu neto nascer rodeado de amor. Ela reescreveu a minha história.

Quantas Nadja recebem seus filhos por um parto normal violento, muitas vezes sem se darem conta?

Parto humanizado não é apenas um parto vaginal, é regaste da essência feminina, superação, amor. É protagonismo, respeito a mulher.

Meu parto, a dor e eu – Gleice e Flávia

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Hoje nosso relato é da Gleice, guerreira.

Seu trabalho de parto foi longo e intenso. E foi para lavar a alma! Um lindo VBAC!

“O que me dava mais medo em um parto normal era a famosa do do parto. Eu sempre ouvia que dor do parto era horrível, era mortal e quando dizia que pretendia um parto sem anestesia sempre falavam: -Se prepara, hein?! Não quero te desanimar, mas dói muito. E em contrapartida as pessoas ligadas ao parto humanizado diziam que a dor do parto era boa, suportável e que ninguém morria dela. Antes de parir eu pesquisei muito, li muito e descobri que a dor do parto era única, que acontecia a partir da percepção de cada mulher e que todas que passaram por ela não tinham se arrependido e fariam tudo de novo.

Psicologicamente eu me preparei para a pior dor do mundo e estava disposta a aguentar até onde pudesse. Daí que as dores do parto chegaram e eu senti algo muito diferente do imaginado. Para mim a famosa dor do parto não doía, mas ardia. A sensação que eu tinha era similar a quando tomamos muito sol e ficamos ardidos. Ela era uma onda: meu corpo avisava de antemão que ela viria, o ardor aparecia fraco, ia aumentando de intensidade e aos poucos ela ia embora.

Tomava conta da lombar, bumbum e quadril. Nessa hora minha doula apertava muito o meu quadril e era mágico. O ardor praticamente sumia. Além disso a doula sempre me lembrava de rebolar e balançar o quadril. Nunca ficar imóvel. A água quente também ajudou muito. Tomei vários banhos no decorrer do parto e já no final da dilatação estar abaixada, pendurada em um barra com água nas costas era muito bom.

Já quando os famosos puxos chegaram o ardor cessou por completo. Era como se meu corpo tivesse desligado a dor e ligado o empurra que seu bebê irá nascer. Assim que minha menina nasceu tudo parou como mágica. Até mesmo para a expulsão da placenta não houve dor alguma. Eu não me arrependo em nada por ter parido sem analgesia.

Foi tranquilo e faria tudo de novo.”

Meu parto, a dor e eu – Pâmela e Davi

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Essa semana será muito especial no Semearmos!

Meu parto, a dor e eu. Nosso tema da semana.Um post por dia. Um relato. Uma mulher partilhando a sua vivência pessoal sobre a dor do parto.

Muito se fala sobre ela, muito temor. Com tanta medicalização no parto, quantas mulheres vocês conhecem para trocarem vivências?

Aqui elas tem voz!

Pâmela mãe do Davi conta tudo o que sentiu para nós.

O meu parto foi planejado bem antes de eu engravidar, assim que o filme O Renascimento do Parto apareceu iniciei meu processo de empoderamento. Eu não sabia quando seria, nem como seria, o que eu sabia era que iria parir.

Quando cheguei nas 41 semanas de gravidez, sem nenhuma cólica, nenhum sinal, me bateu aquele desespero, aquela tristeza, fiquei me perguntando: Meu Deus, será possível que vou passar por essa vida sem nem ao menos conseguir parir, nenhuma dorzinha? Com 41 semanas e 4 dias, fui na consulta com a parteira, ela demorou um pouco para atender, acredito que uns 40 minutos, cheguei antes do horário, mal tinha dormido ansiosa, ela estava com outra paciente, nesse tempo tive algumas cólicas, mas a negação começou ai.

Olívia me examinou e verificou que eu estava com 2 para 3 centímetros de dilatação e tampão saindo. Meu Deus, como assim, tudo isso sem nenhuma dor?Fez o procedimento de descolamento de membrana, fomos embora, entrei no carro sentindo dores. Esqueci a bolsa na Olívia, voltei para buscar, marido foi pegar, eu não quis descer do carro, as cólicas estavam mais interessantes, eu queria senti-las.

Daí pra frente elas vieram mais bonitas, lindas, será que era hora? Como eu queria que fosse.

A Gi, minha doula, me aconselhou as 15 horas a tomar um banho longo, lá fui eu e minha bola. Depois de mais de uma hora elas engrenaram e vinham a cada 3 minutos. Eram dores no quadril, como se eles estivessem sendo pressionados. A água descia gostoso nas costas, saí do banho, as 17 a Gi chegou. Comemos, conversamos, as 20 horas passei mal, fui novamente pro chuveiro acredito que às 21:30 a dor realmente ficou séria, eu no chuveiro me sentia cansada, mas falava, ah, se for assim, aguento até 3 dias.

Às 23 elas ficaram intensas, aí eu sentia realmente a pressão no quadril, e aí comecei a gritar pra expulsar tudo o que elas me traziam, gritava pra que apertassem meu quadril e os anjos chamados doulas, a Gi e a Ca apertavam cada uma de um lado, e era bom de mais quando faziam isso meu Deus, como era bom. Tem fotos que a Alana também apertou, mas coitadas eu nem via só gritava apertaaaaaaaaaa.

É incrível como me lembro pouco dessa dor, me lembro da alegria que era estar conseguindo chegar nesse momento, pensava que estava ajudando meu filho e meu Deus como era bom saber que ele estava chegando, quando realmente aceitei que eu estava parindo, fui pra banheira, e ali eu senti realmente o alívio da dor, a cada contração aquela água quentinha nas minhas costas eram demais de delicia. Ainda lembro da cena, eu, na minha banheira, na minha casa, tendo as tão sonhadas contrações. Elas foram longe, duraram muito, tive edema, ele estava segurando meu bebê, e isso me assustou, mas fui racional, tentei estar no controle da situação se as meninas falassem pra eu virar de ponta cabeça, eu virava, e virei fiquei de 4 apoios na banheira, andei pela casa, subi e desci escada, a pior posição foi na banqueta, nossa que horrível ficar sentada nela, disso eu lembro, de que não quis ficar nela e fui respeitada. Gi fez rebozo.

Quando era umas 8:30 a Olívia me sugeriu que colocássemos gelo pra amenizar o edema, ou teríamos que ir para o hospital tomar anestesia. Eu tinha consciência disso, já havia estudado sobre. Depois de uns 10 ou 15 minutos falei que não ia esperar mais, queria logo colocar o gelo. Subi para o quarto, no meio de uma contração, como onça, motivada por eu quero logo ver meu filho. No momento do procedimento eu estava abraçada a bola e era muito boa essa posição, de quatro.

Ai antes mesmo de colocar o gelo, Olívia conseguiu retirar uma parte do que estava atrapalhando a passagem e o Davi desceu.  A ele desceu e vencemos juntos o edema. Aí eu posso dizer que a dor começou, não a das contrações, essas desapareceram. Aquele mardito daquele circulo de fogo veio que veio queimando tudo, eu queria sumir, eu queria correr, eu queria fazer toda força possível pra que isso acabasse logo, e não acabava. Nessa hora a Gi e o marido seguravam na minha mão, como isso foi importante, eu estava em pânico com medo de machucar, de não conseguir. Do procedimento até o nascimento do Davi foram 18 minutos, que pra mim foram eternos, foi o único momento em que tive pânico da dor, a queimação quando ele passava me fez fazer força, muita força, a cabeça passou, e com ela a dor também. A próxima contração, outra vez a queimação, Olívia nos ajudou, meu bebê nasceu. Tudo passou, estávamos nós, sem dor, sem sofrimento, sem separações. Nosso mundo completo.”