“Não quero um parto humanizado, não precisa de tanto. Um parto normal está bom.”
Ouvi essa frase muitas vezes. Gostaria de pertencer aqueles corpos, mente e coração para sentir esse desejo. Para decifrar o que as pessoas lêem como parto humanizado.
Imagino que as pessoas entendem o parto humanizado como aquele parto que a mulher não pede analgesia. Que ela tem o bebê em casa, apenas com doula.
Parto humanizado é aquele que a mulher é respeitada e protagoniza esse momento. Ponto. Não existe escala. Não existe pódio.
Mas esses detalhes deixarei para outro post, hoje falarei sobre parto normal, só que um parto normal há 32 anos, no hospital.
Nadja Prado abriu seu coração, expos suas feridas nesta entrevista onde relata como seus filhos vieram a vida.
Ela teve dois partos normais violentos, com plantonistas. O que ela relatou ainda acontece quando mulheres desejam parir, com um agravante: Finalizam com cesáreas desnecessárias.
Leiam e reflitam. Parto normal no Brasil é normal mesmo? É respeito? É normal como a palavra sugere?
Entrevista emocionante. Relatos de uma vida, de décadas atrás, que ainda vive intensamente nos hospitais do Brasil.
Semearmos: Qual sua referência de parto em sua vida? Como surgiu seu desejo de engravidar?
Nadja: Esse surgiu depois que casei e foi compartilhado com meu marido. Um mês depois de casada engravidei.
Semearmos: Qual era a troca de experiências sobre o parto?
Nadja: Nenhuma. As mulheres não falavam sobre parto. Quando engravidei não havia essa conversa. As conversas que haviam era sobre o sexo de bebê, médico do pré natal, roupinha de bebê, berço, quarto decorado. Ninguém discutia via de parto. Era um ritual, quando as mulheres sentiam dores iam para o hospital. Falava-se muito na dor, mas ninguém explicava como poderia ser amenizada. Não havia informação, íamos para o hospital e ponto.
Semearmos: Como foi a sua experiência de parto normal hospitalar? Teve preparo, auxílio da família?
Nadja: Não tive auxílio do médico, ele não passava nenhuma informação sobre sinais do trabalho de parto. Eu simplesmente comecei a sentir dores e fui desesperada para o hospital achando que iria dar a luz em poucas horas.
Semearmos: Como foi sua recepção por parte da equipe hospitalar?
Nadja: Foi horrível. Me colocaram num quarto sozinha e ali eu comecei a ter as contrações. A dor foi aumentando, eu gritava e ninguém me acudia. Eu senti muita fome. Internei cedo e minha filha nasceu a tarde. Eu tinha sede. Delirava pensando em comida e bebida.
Me informaram que eu não podia beber e nem comer. A cada hora um médico vinha fazer o exame de toque.
Semearmos: Eles pediam licença? Informação a você sobre o procedimento?
Nadja: Eles não diziam nada. Eu estava morrendo de dor, o médico chegava na sala com enfermeiras, fazia o exame de toque e dizia:
-Não está na hora. E saia. Eu ficava sozinha, até o momento que me levaram para uma sala de cirurgia e as coisas pioraram ainda mais.
Semearmos: Pioraram por quê?
Nadja: Houve segundo eles uma demora na hora do nascimento. Pediram para eu fazer força, eu fazia, mas não tinha dimensão desta força. Estava anestesiada. Diziam durante a aplicação da anestesia que se eu me mexesse ficaria paralítica. Uma coisa horrível, tudo traumático. Num determinado momento uma enfermeira colocou todo o peso dela sobre a minha barriga. E ela dizia que fazia isso para me ajudar. Foi horrível.
Semearmos: O que você sentiu? Acha que isso era certo? Achava que poderia ter recebido um tratamento diferente? Sofreu episiotomia?
Nadja: No primeiro parto não tive episiotomia, mas no segundo sim. Um corte imenso, minha vizinha que viu a extensão. Mal conseguia sentar de tanta dor. Minha filha nasceu com o braço quebrado, sai com ela com o braço enfaixado.
Não tinha o que questionar. Nós fomos ensinadas a obedecer, os médicos sabem de tudo. Se o médico colocasse o pé na barriga não questionávamos. Estávamos imersas numa ignorância total.
Semearmos: E a questão da amamentação? Como fluiu a amamentação no hospital? Você teve contato pele a pele?
Nadja: No caso da minha filha foi uma demora muito grande e me deixou preocupada. Depois de horas fui amamenta-la. Não sei como ela foi alimentada, a vi no dia seguinte. Mulheres se informem. Hoje vocês tem informação. Minha filha pariu naturalmente, com respeito. Eu estava presente. Vi meu neto nascer rodeado de amor. Ela reescreveu a minha história.
Quantas Nadja recebem seus filhos por um parto normal violento, muitas vezes sem se darem conta?
Parto humanizado não é apenas um parto vaginal, é regaste da essência feminina, superação, amor. É protagonismo, respeito a mulher.