Parir é mar, amplitude e solidão.

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Quem nutre o desejo de parir no Brasil fique sabendo, sua jornada será solitária.

Ontem na praia, um dia chuvoso estacionamos o carro só pra contemplar o mar. Apesar da chuvinha as águas nos atraiam. A praia vazia, a paz, águas mornas…

Não entramos. Saímos do carro, fomos até a beira do mar, molhamos os pés e voltamos. Do carro vi três surfistas, enfrentando as ondas, ora por cima delas, outras sendo arrastados.

De fato, para estarem naquele momento ali, na água, entre as ondas tinha muito amor envolvido, muita força de vontade que nada se relacionava com o mundo externo. Podiam estar no bar, em casa debaixo das cobertas. Fazendo qualquer outra coisa que não envolvesse água, chuva, vento e solidão.

Mas é ali em meio a intempéries, na solidão das águas que eles se encontravam.

Assim são vocês gestantes que querem parir naturalmente. Parir é cura, parir é dor, prazer, superação. Mas é um mar que vocês terão de enfrentar.

Não adianta contar com a aprovação da mãe, da prima, da colega da vizinha. Cerca de 98% das pessoas vão te chamar de louca “imagine um mundo moderno desse e você ai querendo sentir dor”. Como se parir fosse apenas dor.

É isso. Poucas mulheres atravessam um trabalho de parto. Poucas entendem como a recepção respeitosa a um bebê faz diferença. Não entendem a agressividade do colírio, das aspirações, da separação por horas. Quem entende como o mar pode curar quem o ama?

Não seria “louco” aquele surfista sozinho enfrentando as ondas?

No processo de busca de informações vocês encontrarão grupos de apoio, mulheres que desejam parir, formarão laços. Mas a força para seguir em frente convicta vem dentro de vocês.

Algumas mulheres podem desistir, mudar seus rumos. E você? Seguirá firme? Como está seu jardim interior, seu ponto de apoio interno?

Quando estava grávida pude ir a três reuniões de grupos de apoio. Optei por não ler nada, sequer Parto Ativo porque entendia o parto como evento fisiológico e sendo assim ele funcionaria. Ele sabe parir. Ele sabe encontrar melhores posições e eu confiava que sim, meu filho ia nascer.

Eu só precisava de paz, respeito, amor e privacidade para que ele desse o seu melhor, sem travas, medos ou bloqueios e para mim isso aconteceu num parto domiciliar. Era meu ambiente, minha toca, onde eu me sentia segura e poderosa.

Para você pode ser o ambiente hospitalar e tudo bem também, não existe um local ideal para parir, existe o local que você se sinta segura e tenha uma assistência de qualidade.

E toda essa força minha veio da solidão, das ventanias e do escuro da noite. Dentro do meu peito ela brotou e se sustentou.

Eu jamais escondi que teria um parto domiciliar e ouvi as coisas mais desanimadoras possíveis e não me deixei abater. Assumi a questão sobre desfechos ruins, coloquei isso numa gaveta. Em outra gaveta coloquei a resolução da parte técnica, encontrei uma equipe iluminada e com energia afim e o restante de toda a energia que eu dispunha usei para confiar e me certificar no poder que eu tinha para parir. E segui firme, debaixo de chuva, enfrentando ondas altas, feliz, por estar convicta de finalmente estar escrevendo a minha história.

E valeu a pena? Valeu. Cada segundo.

Não passei a gestação apenas racionalizando, vendo estatísticas. Eu me entreguei. Dancei muito em casa, sozinha. Nua. Queria sentir meu corpo livre.

Em noites de lua cheia eu ia caminhar em parques. Sentia a luz da lua iluminando cada chackra meu. As árvores falavam comigo e passavam toda sua energia pura para mim. A terra, a grama, os elementos me energizavam.

Cada uma terá sua caminhada e seus passos. Eu engravidei e depois que a parte estava resolvida eu fiz hora e fui na valsa.

Parir naturalmente não deve ser apenas luta, deve ter sentimento, leveza, entrega. Amor, descoberta, superação.

Minha gestação foi de cura. Descobri um mundo horrível onde as mulheres sofrem violências, mas veio a mim um outro mundo. Onde mulheres leoas dão a luz em meio a amor e respeito.

Me curei de dramas familiares, dancei, me perdi nas horas. Assim como aqueles surfistas enfrentando as ondas na solidão do mar. É o que eles precisavam.

Na amplitude do oceano eles encontram a cura.

O poder da mente no parto.

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Preparação mental para o parto. É importante!

“Acreditar é uma coisa muito séria. Quando você acredita numa ameaça, suas glândulas reagem, despejando um excesso de adrenalina e todo excesso complica a saúde. Quando você acredita numa coisa boa, o corpo também se prepara, colocando na corrente sanguínea os hormônios da satisfação e isso ajuda a sua saúde e a sua forma de encarar os desafios. Quanto mais o seu discurso positivo aumenta, tanto mais o corpo procura se alinhar nas condições positivas.

Você pode imaginar as consequências de um estado mental depressivo. Combater tal estado é uma necessidade imperiosa de todos os dias, todos os dias, todos os dias. Manter-se em cima, de alto astral tem sido a maior luta dos humanos. Agora, e como acreditar numa coisa boa, quando vivemos uma coisa ruim? O esforço dobra, porque pelo tempo que for necessário a sua paz, você lutará para afastar a sua mente do que te faz mal. Às vezes, é preciso ter coragem e romper também com lugares, circunstâncias e pessoas que já não acrescentam nada em sua vida.” –

Nilsa Alarcon e J. C. Alarcon

***

A mente tem um poder imenso sobre nossas ações. Cuidar de nossa saúde e bem estar mental é tão importante quanto fazer todos os exames no pré natal.

Já pensou em se afastar de pessoas que se aproximam de você para plantar negativa e insegurança? Que sempre tem na ponta da língua uma história trágica?

Trabalho de parto não é um caminho linear. É íngreme, a percepção de tempo muda, o estado de consciência se altera e é no seu mundo interior que você irá se apoiar. É confiando em sua força, sua capacidade de parir que você irá transceder limites. Nas minhas contrações eu imaginava um abraço que trazia meu filho para perto de mim. E agradecia! Imagina meu corpo como um caminho de flores, perfeito que meu filho percorreria.

Positividade é nossa força, nosso motor. Não deixemos que poluentes o prejudiquem.

Nina Simone, Rosa Parks, Anna de Assis e seu parto.

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A fogueira é delas. Queimem-nas. Elas sentem prazer no parto em meio a dor? Enterrem esse saber. Ensinem a elas que não precisam mais parir. Sentada no ônibus Rosa? Saia já dai que eu quero sentar. E você Tina? Quer apanhar mais? Meu marido a cobiça? Quero seus olhos Anastácia. Quer ir para a guerra? Tire a saia. Está chorando? Pudera, você é fraca.

E você Anna? Quem permitiu que você amasse Dilermando? Que saísse de casa com seus filhos? Que ferisse as mãos assando bolos e poupando seus filhos do trabalho?

Quem disse que você pode falar outros idiomas? Quem fez com que você acreditasse que ganharia o mesmo que eu? E seus filhos? Quem mandou tê-los? Não vai cuidar deles, não é?

***

Um menino atrás de mim na fila perguntou ao pai se é difícil ser adulto.

Ele não sabe ainda o que é ser mulher. É muito mais difícil e só hoje aos 31 anos eu tenho plena consciência disso.

Mulheres são fortes, tão fortes que eram deusas. E fomos pilhadas. Hoje o canibalismo impera, mulheres embrutecidas submetem outras. E se afastam de sua essência, tão forte quanto delicada.

Com uma amiga falamos sobre Nina Simone, o quão forte e altiva ela era. Voz arrebatadora. Parecia uma grande árvore invencível. Mas apanhava do companheiro.

Cheguei à conclusão que as mulheres mais fortes são alvo. São a resistência, o selvagem. As que merecem sela e cabresto. Que precisam ficar com as mãos para trás e a cabeça abaixada.

Vocês mulheres que querem parir descobriram sua força mesmo sem se dar conta disso. A aura de vocês está diferente. Seu olhar, sua postura. Alguma coisa ai dentro de vocês despertou.

É uma estrada que só leva… Nunca mais te traz.

Portanto se preparem para a luta. Vão questionar, tentar te dissuadir, dizer que fizeram uma lavagem cerebral em vocês, que vocês enlouqueceram mas a verdade é que vocês despertaram a essência feminina selvagem que todas nós temos.

Ela assusta. O selvagem precisa ficar em jaulas, precisa de sedativo pra acalmar.

Não permitam que amarrem sua força, seus desejos e sua vontade.

Somos a usina da vida. Do nosso ventre vem a luz.